Campanha Abril Azul

No ano de 2007, a Organização das Nações Unidas – ONU instituiu o dia dois de abril como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A data é um marco, no Brasil e no mundo, de que algo se modificava em relação ao lugar que o autismo passaria a ocupar. Uma década antes pouco se falava de autismo, tanto que foi somente em 1993 que o autismo passou a existir na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde (CID-OMS). 

O símbolo do autismo é o quebra-cabeça, que denota sua diversidade e complexidade — criado em 1963 pela National Autistic Society, no Reino Unido. 

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição de saúde caracterizada por déficit em duas importantes áreas do desenvolvimento: comunicação social e comportamento. Não há só um tipo de autismo, mas muitos subtipos, que se manifestam de uma maneira única em cada pessoa. Tão abrangente que se usa o termo “espectro”, pelos vários níveis de comprometimento — há desde pessoas com outras doenças e condições associadas (comorbidades), como deficiência intelectual e epilepsia, até pessoas independentes, com vida comum, algumas nem sabem que são autistas, pois jamais tiveram diagnóstico.  

O diagnóstico do autismo é essencialmente clínico, realizado por meio de observação direta do comportamento do paciente e de entrevista com os pais ou cuidadores. Os sinais e sintomas característicos estão sempre presentes antes dos 3 anos de idade, com um diagnóstico possível por volta dos 18 meses. Normalmente os pais começam a se preocupar entre os 12 e os 18 meses, na medida em que a linguagem não se desenvolve.

Um diagnóstico de TEA envolve prejuízos na interação social e na comunicação, além da presença de padrões restritos de comportamento e interesses.

O prejuízo nas interações sociais inclui déficit no uso de formas não-verbais de comunicação e interação social; não desenvolvimento de relacionamentos com colegas; ausência de comportamentos que indiquem compartilhamento de experiências e de comunicação (Ex.: habilidade de “atenção compartilhada” – mostrando, trazendo ou apontando objetos de interesse para outras pessoas); e falta de reciprocidade social ou emocional.

O prejuízo na comunicação inclui atrasos no desenvolvimento da linguagem verbal, não acompanhados por uma tentativa de compensação por meio de modos alternativos de comunicação, tais como gestos em indivíduos não-verbais; prejuízo na capacidade de iniciar ou manter uma conversa com os demais (em indivíduos que falam); uso estereotipado e repetitivo da linguagem; e falta de brincadeiras de faz-de-conta ou de imitação social (em maior grau do que seria esperado para o nível cognitivo geral daquela criança).

Os padrões restritivos repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades incluem preocupações abrangentes, intensas e rígidas com padrões estereotipados e restritos de interesse; adesão inflexível a rotinas ou rituais não-funcionais específicos; maneirismos estereotipados e repetitivos (tais como abanar a mão ou o dedo, balançar todo o corpo); e preocupação persistente com partes de objetos (Ex.: a textura de um brinquedo, as rodas de um carro em miniatura, as pás de ventiladores, etc.).

A mobilização quanto à conscientização sobre o TEA justifica-se por grandes preocupações. A primeira é relativa ao aumento do número de diagnósticos de autismo em todo o mundo, com importantes mudanças nos critérios de diagnóstico e com a incorporação de vários transtornos ao TEA. A segunda preocupação descende da primeira: com o aumento do diagnóstico houve, claro, o aumento da oferta de tratamentos. Em todos os campos — na saúde, políticas públicas etc. — começaram a proliferar serviços e produtos para este novo mercado, ocasionando a comercialização do autismo nos setores públicos e privados, o que pode levar a uma vulnerabilidade, cada vez maior, dos sujeitos autistas e de seus pais ou cuidadores.

Sendo assim, o crescente número de diagnósticos de autismo, associado a uma busca desesperada por tratamentos tem conduzido pais, cuidadores e escolas a um deslocamento desorganizado de uma intervenção a outra, de um tratamento a outro, de uma medicação a outra, de um profissional a outro, além de uma mistura de técnicas científicas com crenças religiosas mescladas com modismos que se proliferam a partir das redes sociais.

Um outro ponto que sustenta a importância do mês de conscientização do autismo é de questionar os rótulos dados às pessoas com TEA. Os estigmas podem atrapalhar o tratamento, dificultar os vínculos afetivos e sociais, impor barreiras às capacidades educacionais, suspender indevidamente deveres e direitos políticos e inviabilizar oportunidades profissionais, ou seja, podem agravar ainda mais o que já é sintoma do próprio autismo.

Assim, embora seja necessário, o diagnóstico contribui, ao mesmo tempo, com o processo de estigmatização. Por isso é fundamental que se reconheçam seus limites, pois algumas pessoas podem acabar tornando-se o rótulo que lhes é dado de tal modo que sua vida pode começar a girar, não mais em torno dos seus interesses e capacidades, mas em torno dos limites dados pela nomeação do seu diagnóstico.

 

Materiais complementares: 

 Quais são as causas do autismo?
https://www.youtube.com/@mayragaiato

 Manual de Orientação - Sociedade Brasileira de Pediatria (PDF)

 Lei Berenice Piana - Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012.
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm

 Canal Autismo
https://www.canalautismo.com.br/

 Associação de Amigos do Autista – AMA
https://www.ama.org.br/site/

 

 

 

 

Diretoria de Desenvolvimento de Pessoas – DIDP
Superintendência de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas – SGDP  

Última atualização: quarta, 12 Abr 2023, 18:41